Quando a Ciência é Censurada

Por uma cronista que ainda acredita na liberdade do pensamento

Nos tempos de hoje, em que a ficção anda cada vez mais parecida com a realidade, não é de se estranhar que o enredo mais distópico venha diretamente da Casa Branca. Donald Trump — agora em seu segundo ato como presidente — decidiu travar uma guerra que não se combate com tanques ou mísseis, mas com canetas, carimbos e cortes orçamentários. O alvo? As universidades mais respeitadas dos Estados Unidos, aquelas mesmas que ajudaram a construir a reputação do país como referência mundial em ciência, inovação e liberdade de pensamento.

A lista de instituições punidas poderia muito bem ser o ranking das melhores do mundo: Harvard, Princeton, Columbia, Johns Hopkins. Nomes que evocam excelência, pesquisa de ponta e, acima de tudo, pluralidade de ideias. Pois é justamente essa pluralidade que parece incomodar tanto o presidente. Em nome de um suposto combate ao “antissemitismo descontrolado”, o governo Trump iniciou uma ofensiva que cheira mais a censura do que a qualquer zelo democrático.

Com uma Suprema Corte e um Congresso que aplaudem de pé seus delírios autoritários, Trump age como um tutor severo, ameaçando cortar bilhões de dólares em financiamento federal caso as universidades não se dobrem a seus critérios ideológicos. Harvard, por exemplo, recebeu uma cartinha do governo exigindo “reformas críticas” para não perder seus 52 bilhões de reais em financiamento. Um pouco mais e vão exigir que os professores passem por um curso de reeducação patriótica.

As acusações de antissemitismo, nesse caso, são tão elásticas quanto convenientes. O que está em jogo, na prática, é a liberdade de expressão no ambiente universitário — especialmente quando essa expressão critica o governo de Israel ou defende a causa palestina. Sob essa lógica, protestos estudantis, debates acadêmicos e até departamentos inteiros de estudos do Oriente Médio se tornaram alvos. É a velha tática: disfarçar repressão de moralismo, pintar censura com as cores da justiça.

Enquanto isso, universidades se veem acuadas, divididas entre princípios e sobrevivência. Afinal, como sustentar pesquisas de ponta sem os recursos federais que representam até 13% de seus orçamentos? Como manter bolsas, laboratórios e cientistas se o preço da autonomia intelectual é a asfixia financeira?

O que Trump parece esquecer — ou talvez nunca tenha entendido — é que a grandeza de uma nação se mede também pela capacidade de suas universidades questionarem, inovarem, discordarem. Uma universidade que teme ser punida por permitir um protesto é uma universidade que já não pensa, apenas sobrevive.

Em nome da “recuperação das instituições educacionais”, o presidente americano vai, na verdade, desidratando lentamente a espinha dorsal da produção científica do país. Não é só a liberdade acadêmica que está sob ataque — é o próprio futuro do conhecimento.

E enquanto bilhões evaporam e reitores são obrigados a escrever comunicados diplomáticos com o coração apertado, o mundo assiste, estarrecido, à maior potência do planeta calando seus próprios pensadores. É como se o país estivesse dando um tiro no próprio cérebro.

É doloroso ver o que se transforma quando a educação vira alvo de guerra ideológica. Quando o saber é condicionado à obediência. Quando a universidade deixa de ser espaço de liberdade para virar campo minado.

É… se antes a ameaça às universidades vinha de fora, agora ela veste terno, ocupa um gabinete oval e responde pelo título de presidente.

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